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Fisiologia da Respiração

1) O que é a respiração?

A respiração é um processo químico, que ocorre em cada unidade aeróbia, seja um animal complexo ou uma simples célula. Todos esses seres vivos; todas essas células aeróbias vivas respiram para obter energia, para tanto absorvem O2 que reage com um substrato energético, sendo o mais conhecido a glicose, destas reações resulta gás carbônico e água (CO2 + H2O), já que uma molécula maior é degradada em várias moléculas menores. Neste processo de degradação é liberada a energia contida nas ligações químicas.

Cada célula do nosso corpo só pode realizar esse conjunto de reações químicas que caracteriza a respiração intracelular porque são constantemente supridas de grandes volumes de oxigênio, bem como eliminam, em conjunto, grandes volumes de gás carbônico graças à íntima relação desse sistema com o sistema cardiovascular.

2) Quem é o motor do sistema respiratório?

O motor da respiração não é nenhum órgão do próprio sistema respiratório. Os órgãos que nos permitem inspirar ou expirar o ar são os músculos respiratórios, todos pertencentes ao sistema muscular.

Eles podem ser divididos em dois grupos:

– Músculos inspiratórios: atuam na entrada do ar, ou inspiração (diafragma, intercostais externos, escalenos, esternocleidomastoideos, trapézio superior, peitoral menor, serrátil anterior, entre outros).

– Músculos expiratórios: atuam na saída do ar ou expiração (intercostais internos, subcostais, obliquo interno, oblíquo externo, transverso do abdome, reto abdominal, quadrado lombar, serrátil inferior entre outros).

3) Tipos de respiração

– Respiração baixa ou diafragmática: Maior parte do movimento da caixa torácica está na parte baixa. Considerando-se que os pulmões possuem um formato piramidal espera-se que essa respiração possibilite uma maior ventilação mobilizando a base dessa estrutura piramidal onde há um maior volume de ar!

– Respiração alta ou apical: Devido à uma maior predominância dos músculos inspiratórios acessórios como os escalenos, esternocleidomastoideo, trapézio superior,entre outros, que elevam a parte superior da caixa torácica, mobilizando o ar no ápice dos pulmões onde os volumes são menores.

– Respiração média: Quando se utiliza predominantemente os intercostais externos nas inspirações, o movimento mais pronunciado tende a ser das porções médioinferiores da caixa-torácica. A respiração média é intermediária também no sentido da mobilização do volume de ar em relação aos dois exemplos anteriores.

4) Existe uma forma correta para respirar.

Existem padrões respiratórios que, devido à liberdade proporcionada para o ator principal da respiração, que é o diafragma, promovem um amplo benefício para todos os sistemas que estão envolvidos com essa ação tão importante, por outro lado, existem padrões respiratórios onde a liberdade do diafragma acaba sendo drasticamente reduzida, já que este está submetido à tensão das cadeias musculares anterior e posterior do corpo.

(Campignion, 1998) relata que a respiração depende da estática da coluna vertebral, logo ela não poderia ser a respiração ótima em qualquer atitude em pé. Uma postura onde encontramos um certo alinhamento dos centros de massa do corpo, sem tensão excessiva nos grupos musculares anterior e posterior, libera a atividade dos músculos profundos da coluna vertebral e do tórax que irão promover um alinhamento das peças vertebrais para que o diafragma possa atuar livremente.

Isso não quer dizer que existe um único padrão correto, ou única forma, há muitas possibilidades dentro do arranjo postural de cada sujeito, principalmente quando não há uma fixação em um determinado modo.

5) O que é uma respiração diafragmática? É aquela em que estufamos a barriga para respirar?

Entendemos que todo músculo esquelético pode melhorar sua função com o treino. Sabendo-se que a absorção de O2 pela circulação sanguínea é consequência da pressão arterial deste gás contra as paredes dos alvéolos, e sabendo-se que a pressão parcial de um gás é diretamente proporcional à pressão total do ar, manobras que aumentam esta pressão podem também otimizar a absorção de O2.

Há uma grande confusão quando pensamos que a respiração diafragmática só é possível quando se projeta o abdômen para fora, entendendo ser essa a única ação possível da parede abdominal devido à descida do diafragma, no entanto quando realizamos uma contenção da parede abdominal pela ação do transverso abdominal principalmente, a pressão é distribuída e levada para cima, ao invés de ir para baixo na pequena bacia, logo a pressão do ar dentro dos pulmões aumenta e consequentemente a troca de gases é otimizada.

Como pode ser constatado por (Kuvalayananda, 2008) apud (Santtaella & Silva, 2019).

Deste modo, dentro do método Pilates podemos estimular nossos alunos a inspirar utilizando-se do diafragma e, ao mesmo tempo mantendo uma contenção abdominal oferecendo uma resistência à essa expansão! Segundo (Santtaella & Silva, 2019) isso melhora o valor em oxigênio da respiração e se traduz numa outra dinâmica na movimentação da caixa torácica, levando-a a uma expansão anterior e também para os lados, tendo o diafragma como motor primário desse processo.

Corroborando com esse tipo de pensamento (Campignion, 1998) destaca que “respirar com a barriga” é completamente natural em situação de repouso, quando o homem está deitado ou sentado com as costas apoiadas, pois ela responde a uma baixa necessidade de oxigênio, porém esse tipo de respiração não é funcional quando o homem está em pé ou se movimentando.

“Respirar com o ventre em postura ereta é contrário à fisiologia” e talvez isso pode ser explicado justamente pela lógica da distribuição de pressão interna citada acima onde a tonicidade do transverso abdominal é essencial.

6) Impacto no sistema cardiorrespiratório nos exercícios de Pilates:

Os exercício respiratórios.

“Antes de se preocupar com o ato inspiratório ou expiratório, preocupe-se com o movimento organizado”

Exercício Breathing – Cadillac

Este exercício chamado BREATHING consiste em movimentarmos o corpo utilizando toda a cadeia posterior, extensores do quadril, glúteos, paravertebrais, para elevar a bacia e a parte baixa das costas do chão enquanto realizamos uma extensão dos ombros e a abertura do peito. O movimento é feito no tempo inspiratório onde o apoio das mãos na barra favorece a estabilidade das escápulas e a ação do músculo serrátil anterior, que é um poderoso músculo acessório na medida em que ele ajuda na abertura do gradil costal. Essa expansão da caixa torácica deve acontecer de forma tridimensional e mesmo contra a gravidade o diafragma deve trabalhar para abrir as costelas. Após o quadril chegar na posição correta, realizamos uma pausa na inspiração de 3 segundos ou mais, isso vai depender do conforto do aluno.

Efeitos do exercício

Devido a maior parte do corpo estar acima do nível do coração o retorno venoso (sangue que corre dos pés na direção do coração) é facilitado e aumentado pelo fato de estar a favor da gravidade, o que normalmente não acontece quando estamos em pé. Quando isso ocorre há uma elevação da frequência cardíaca com uma consequente elevação da pressão arterial. Outro fato importante é que o diafragma precisa lutar contra a gravidade para empurrar as vísceras para cima, e não para baixo, e as costelas tendem a se elevar por estarem a favor da gravidade. Além disso, a retenção do ar deve causar um aumento de pressão interna dentro da caixa torácica e dos pulmões, o que pode facilitar a troca de gases neste ambiente.

Todas essas alterações no sistema cardiorrespiratório podem causar, ao longo do tempo, adaptações favoráveis à melhora do consumo de oxigênio de pico (VO2 pico), como sugerem pesquisas citada por (Santtaella & Silva, 2014) dentro da prática de posturas invertidas no Yoga.

A prática de posturas invertidas é muito comum dentro do contexto das práticas de Yoga e todas essas posturas possuem como objetivo adaptações positivas no sistema cardiorrespiratório. Obviamente Joseph Pilates bebeu dessas fontes e acabou sendo influenciado por essa filosofia. Não podemos deixar de citar que, para cardiopatas e hipertensos, por terem os mecanismos baroreflexos com um funcionamento inadequado, esse tipo de exercício é contraindicado.

Exercício Grasshopper – Spine corrector

O exercício GRASSHOPPER é um trabalho onde são realizadas contrações isométricas combinadas com contrações isotônicas, principalmente com a participação

dos glúteos, do latíssimo do dorso, do quadrado lombar e paravertebrais extrínsecos. Dessa forma ocorre um aumento de disparos do sistema nervoso simpático (ramo do sistema nervoso autônomo que prepara o organismo para situações de alerta), liberando adrenalina e noradrenalina na circulação que leva ao aumento da frequência cardíaca, da pressão arterial, e promove vasodilatação dos grupos musculares que realizam o esforço.

Com relação ao sistema respiratório muitas pessoas realizam esse exercício em apneia respiratória, o que não é um erro, uma vez que um dos principais efeitos desse exercício é o aumento da pressão alveolar e a retenção do ar dentro dos pulmões aumenta esse efeito.

Quando projetamos os MMII para cima, a massa corporal se desloca sobre o tórax, em sua região anterior, aumentando assim a pressão que a caixa torácica exerce nos pulmões e nos alvéolos, principalmente pelo fato de que o apoio do abdome, porção infra umbilical ajuda na transferência dessa pressão para a região dos pulmões.

Essa elevação pressórica é sentida também no coração, que tende a receber mais sangue, por um aumento do retorno venoso devido a essa inversão postural (pernas acima do nível do coração). Esse retorno venoso é limitado pelo aumento da pressão torácica, que evita uma diminuição natural da pressão final diastólica.

Da mesma maneira que no BREATHING, esse tipo de exercício é contraindicado para pessoas com distúrbios cardiovasculares.

The Hundred – Mat

Neste exercício Clássico do Mat Pilates, realizamos uma contração isométrica de toda cadeia anterior do corpo enquanto bombeamos os braços para inspirar em 5 tempos e soltar o ar em 5 tempos. Como há um componente isométrico muito grande há um aumento da resistência vascular periférica e consequentemente do retorno venoso, além disso as pernas estão acima do nível do coração o que também pode facilitar esse mecanismo.

Como o aumento de pressão nesta posição é mais abdominal, o diafragma terá mais dificuldade para empurrar as vísceras para baixo assim como o movimento da cintura escapular dificulta a estabilidade da escápula o que pode limitar também a ação do serrátil anterior para abrir as costelas. Neste caso o corpo terá que trabalhar para encontrar o seu equilíbrio homeostático e fará adaptações metabólicas que ao longo do tempo serão benéficas ao praticante.

Assim como o The hundred, o Pilates possui muitos outros exercícios com características similares e todos eles são considerados exercícios de respiração no método, são eles: Coordination e Backstroke (Reformer).

Pedi Pole, um aparelho que melhora a função respiratória sem ensinar a respirar!

Criado para trabalhar com cantores líricos, Joe Pilates tinha em mente melhorar a função respiratória dessas pessoas. Então criou um aparelho chamado Pedi Pole.

Toda engenharia de Joe conversa com as linhas dos nossos corpos e são representações dos nossos próprios segmentos corporais, por isso a BASE = PÉS; HASTE = COLUNA; MOLAS = BRAÇOS são recursos que o aluno irá utilizar para construir a sua VERTICAL (relação crânio-sacral), afinal nossa respiração depende de um bom funcionamento do diafragma e este depende de boas alavancas da coluna vertebral!

Era ou não era um gênio nosso Joe?

Referências bibliográficas

1. Campignion, Philippe – Respir-ações: A respiração para uma vida saudável – São Paulo: Summus, 1998.

2. Pilates, Joseph Hubertus – Escritos (Your Health & Return to life of through contrology): The authentic Pilates Studio Brasil, 2012. 228p.

3. Santaella, Danilo Forghieri & Silva, Gerson D` Addio – Anatomia e Fisiologia aplicadas ao Hatha Yoga: Volume 2 – Sistema cardiorrespiratório; 1 edição SP; Editora Cartago; 2019.

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